terça-feira, 2 de junho de 2015

O Trigo e o Joio (1965)


Em 1965, O Trigo e o Joio, baseado no romance homónimo de Fernando Namora, foi produzido em regime de cooperativa, destacando-se neste empreendimento colectivo a participação de Igrejas Caeiro, Fernando Namora e António da Cunha Telles.

Na sua crítica, Manuel de Azevedo, embora reticente, destaca essa qualidade "humana":
«Não será talvez um “grande filme” – num sentido ambicioso de estilo cinematográfico. Mas é de certo, um filme de mérito indiscutível, obra de equipa, onde há que aplaudir a humanidade de cada um. E nessa contribuição de sacrifício individual está, porventura, a maior qualidade de “O Trigo e o Joio” – caminho válido e seguro (embora não único) do cinema português, que não pode, sem perigo de esterilidade, ignorar a realidade portuguesa».

Azevedo comenta também o aspecto estético:
«Em “O Trigo e o Joio”, Manuel Guimarães demonstrou já um amadurecimento que lhe permitiu evitar alguns dos seus maiores defeitos: a retórica cinematográfica. O filme resulta, deste modo, numa obra equilibrada, expressiva, com qualidades espectaculares dignas de aplauso. (...) Filme sem ousadias formais, sem um estilo ambicioso, impõe-se pelo acerto e pela simplicidade da generalidade das sequências, em que a história corre sem grandes oscilações» (Diário de Lisboa, 10-11-1965).

De facto, o filme aparenta uma evolução narrativa que se aproxima mais do idioma do cinema novo, nomeadamente pelo uso de elipses; todavia, esta impressão revelou-se errónea após análise dos cortes da censura que, eles sim, foram os responsáveis pelas «elipses». Este foi mais um filme impiedosamente torturado pela Censura.

Nos anos 60, Guimarães aperfeiçoa a sua matriz clássica e mantém-se fiel a uma estrutura narrativa que usa formas clássicas essenciais, tanto ao nível do argumento e da composição dramatúrgica, como nas opções cinematográficas.
 
Texto compilado a partir de «Um neo-realismo singular: o cinema de Manuel Guimarães», de Leonor Areal, in Actas das II Jornadas de Cinema Português, UBI, 2011.

Anúncio de estreia no Diário de Lisboa em 9-11-1965.

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